Da conscientização e fortalecimento da juventude ao empreendedorismo. Articulada em 1998 e legalmente criada em 2002 com o objetivo de organizar e fortalecer a juventude rural em busca do acesso às políticas públicas de educação, a Associação de Jovens Rurais (AJR) tem atualmente entre as principais atividades, a produção de biojóias e artesanato produzido a partir do coco babaçu.
A AJR reúne jovens de 12 comunidades da região do Médio Mearim do Estado do Maranhão, que estudaram e estudam em Escolas Familiares Agrícolas (EFAs) e despertaram para as vocações agroextrativistas de base agroecológica de suas regiões. Jovens como Analice de Sousa Santos, de 15 anos, que divide seu tempo entre os estudos no Centro Familiar Formação por Alternância de Ensino Médio e Profissionalizante Manoel Monteiro (CEFFA) e a produção de biojóias na comunidade de Pau Santo, em Lago do Junco/MA.
“Eu estudo em escola familiar agrícola e também sou artesã de biojóias de babaçu”, diz orgulhosa a estudante. “Sinto orgulho de utilizar o babaçu, pois a palmeira é um recurso da minha região”, complementa Analice, destacando que busca inspiração em revistas para ficar por dentro do que está na moda e adaptar ao babaçu para criar novas peças. O CEFFA é uma das escolas apoiadas pela Associação em Áreas de Assentamento do Estado do Maranhão (ASSEMA) com recursos do Fundo Amazônia, visando fortalecer a educação do campo por meio da agroecologia e da valorização do agroextrativismo do babaçu .
A AJR iniciou com um grupo de jovens na igreja com reuniões e animações. “Com o tempo, sentimos a necessidade de reivindicar mais educação, pois na comunidade de Ludovico, em Lago do Junco/MA, por exemplo, não tinha o ensino médio. Com a unidade de ensino médio, chegamos a pensar que era suficiente, pois evitava a saída dos jovens para estudar em outras cidades, mas depois voltamos a pensar em fazer algo mais”, lembra Vera Lúcia Silva Sousa.
Depois da conquista na educação, o que inclui o CEFFA Manoel Monteiro, os jovens perceberam que poderiam ir mais além. Foi então que surgiu a ideia de empreender. Começaram a produzir embalagens para os sabonetes de babaçu fabricado pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues (AMTR), na comunidade de Ludovico. “No início, produzíamos caixas e jogos americanos com a fibra da palmeira de babaçu. Depois pensamos em aproveitar o coco babaçu. Daí surgiu a ideia de produzir chaveiros e colares, na época, bem rústicos”, conta Vera Lúcia, ressaltando que depois passaram a produzir anéis e brincos, entre outros produtos.
A partir do ano passado, liderada por oito jovens que integram o Núcleo de Artesanato Rosanira Alves (Nara,) no povoado de Pau Santo (Lago do Junco/MA), a produção foi ampliada e ganhou até uma marca: BioJóias – Artesanato de Babaçu, que atualmente é vendida no âmbito regional, em feiras de artesanato, mas também segue para São Luís, Rio de Janeiro, Brasília, entre outras capitais.
A produção e comercialização das peças de babaçu trabalhadas pela AJR estão para além de gerar renda. “Muito mais do que o aspecto econômico, estão os valores socioambientais e históricos de lutas que envolvem a valorização e o protagonismo do jovem do campo na dinâmica do extrativismo do babaçu”, afirma o coordenador da AJR, Jessé Lima, que também estudou no CEFFA Manuel Monteiro e atualmente cursa faculdade de Licenciatura em Educação do Campo.